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O desenvolvimento da sociedade mostra, ao longo do tempo, uma forte evolução no consumo individual de energia. O homem primitivo utilizava energia suficiente apenas para o funcionamento do seu metabolismo, o equivalente ao consumo de um índio não aculturado da Amazônia. Isso correspondia à potência média aproximada de 150 W ao longo de 24 horas. Isto é, consumíamos tanto quanto uma lâmpada com potência de 150 W.

Com a evolução da sociedade, cada vez mais complexa, fomos incorporando uma quantidade maior de energia no nosso cotidiano para dar conta de nossas necessidades de transporte, conforto ambiental, manufatura e produção de alimentos, entre outras. Atualmente a potência média demandada per capita, no Brasil, gira em torno de 5 KW – um aumento de cerca de 30 vezes em relação à sociedade primitiva.

A possibilidade do uso de mais energia confere muito mais poder ao homem moderno. Não por acaso, em inglês, a palavra “power” significa “potência” e também “poder”.

Com o desenvolvimento da sociedade moderna, aumenta a importância do Planejamento Energético, no qual se busca atender, da forma mais racional possível, às suas complexas necessidades energéticas. Embora no mundo capitalista o mercado tenha ajustado a oferta às necessidades, frequentemente os preceitos da Segunda Lei da Termodinâmica não são observados da forma como deveriam.

Nesses tempos de transição energética, lembro de ver uma pesquisa sobre o uso de caldeiras a hidrogênio. Em um primeiro momento, poder-se-ia aventar uma rota tecnológica onde o H2V viesse substituir o Gás Natural – GN, por exemplo, na produção de vapor para a indústria. Mas nesse caso, estaríamos usando a energia mais nobre (elétrica) para uma aplicação de muito mais baixa entropia, com baixa eficiência (inferior a 40%), quando uma solução mais racional seria usar a energia elétrica renovável em uma caldeira elétrica com eficiência de quase 100%. Ou, ainda melhor, buscar uma energia mais barata e menos nobre, como calor residual, por exemplo, que atendesse àquela necessidade de calor para a indústria.

Outra situação de análise interessante diz respeito à produção de H2V no Brasil, liquefação, exportação e distribuição na Europa. Em uma análise global, como justificar a produção de energia termelétrica não flexível (na base) no Brasil utilizando GN com eficiência de 60% e exportar H2V (produção, armazenamento e transporte) que, seria distribuído por gasodutos na Europa em mistura com GN? Essa rota para o fornecimento de gás combustível à Europa (Cenário A) teria uma eficiência global de 48%.

Alternativamente poderíamos simplesmente exportar o GN que, então, não seria usado nas termelétricas brasileiras e substituí-lo (no Brasil) por eletricidade de fonte renovável (Cenário B). Por essa rota alternativa teríamos uma eficiência de cerca de 79% na exportação da energia (armazenamento e transporte) e um melhor aproveitamento da energia elétrica renovável no Brasil (eficiência de quase 100%). Tudo isso sem considerar o custo de capital – CAPEX muito menor do cenário B, em relação ao cenário A.

Quanto à emissão de Gases de Efeito Estufa – GEE, queimando a mesma quantidade de GN, emiti-los no Brasil ou na Europa é indiferente, no que concerne ao impacto global sobre as mudanças climáticas.

Professor Mario Olavo Magno de Carvalho | Consultor da SER