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O Brasil nunca se distinguiu por sua capacidade de planejamento. Talvez o setor elétrico tenha sido uma exceção, no passado, quando o mercado de consumo era mais previsível e quando a geração era basicamente hidro e termelétrica. Para agravar a atual dificuldade  de se planejar o setor elétrico, temos a rápida evolução tecnológica na geração, como no caso das usinas eólica e solar fotovoltaica. Pelo lado do consumo, a introdução massiva dos veículos elétricos no mercado, por exemplo, deverá modificar fortemente os hábitos de consumo agravando essa dificuldade. Além desses fatores, as atuais restrições ambientais tornaram-se condições de contorno muito mais severas, em particular para atender à chamada transição energética.

 Todo esse quadro aumenta a dificuldade de se conduzir um planejamento criterioso do setor elétrico, mas a principal razão é que o planejamento deve pressupor uma estratégia, que oriente as ações de planejamento. Não se pode esperar que o setor elétrico seja uma área em que, simplesmente, o mercado se autorregule, como gostariam alguns. Tampouco o planejamento energético pode ser uma atividade exclusivamente de estado, como defendem outros.

Qualquer que seja a abordagem, quando consideramos todo um conjunto de alternativas de investimento em determinado setor, nunca estão disponíveis recursos materiais e humanos para se atender toda a demanda. A tomada de decisão sobre quais ações estimular e que outras serão preteridas, carece de uma estratégia que deve existir para dar sentido ao planejamento. Só então ações regulatórias, por exemplo, deverão ser tomadas.

Diferentemente de uma empresa, onde é mais fácil conceber uma estratégia condizente com seus objetivos, para um país muitos outros parâmetros compõem o quadro para tomada de decisões. Nesse caso, frequentemente, na carência de uma estratégia, são feitos planejamentos e distribuição de recursos baseados em “lobbys” de interesses privados ou de correntes políticas nem sempre voltadas para os melhores interesses da sociedade.

Por outro  lado, ter uma estratégia que priorize tudo não serve de nada. Esse é, muitas vezes, o caso de aplicação de recursos de forma centralizada, que tenta atender a tudo com parcos recursos, sem definir uma prioridade ou uma estratégia que oriente o desenvolvimento de um país em uma linha coerente, ainda que sujeita a  percalços.

O Programa Nuclear Brasileiro baseado em um acordo com um país que aboliu o uso de energia nuclear por razões ambientais é um exemplo desse insucesso. Outro exemplo é o da estratégia nacional de construção de UHEs a fio d’água (com pequenos reservatórios), também por razões ambientais, que posteriormente demandariam a ampliação do uso de UTE para garantir a flexibilidade de geração não proporcionadas por aquelas UHEs, voltando a gerar fortes impactos ambientais. Por ironia, uma das alternativas aventadas para corrigir esse problema é o armazenamento em reservatórios de usinas hidrelétricas reversíveis, voltando ao problema inicial.

A estratégia está associada às escolhas para se atingir objetivos e metas. Já o planejamento está ligado ao processo, à forma de organização das ações para alcançar esses objetivos. Sem esses conceitos claros, corremos o risco de, como no passado, agirmos de forma incoerente. Ter uma boa estratégia não é fácil, mas seguir sem ela pode ser um tiro no pé.

 

Professor Mario Olavo Magno de Carvalho | Consultor da SER
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