SER Renováveis

O pressuposto dessa afirmação é de que o combustível vai ter no futuro o mesmo papel que teve no passado. Qual seja, o de oferecer uma fonte de energia que atenda às nossas necessidades de calor, iluminação e pouco mais à frente, com o desenvolvimento das Máquinas Térmicas, o trabalho.

Baseado nesse conceito por todo o tempo buscou-se fontes primárias de energia (renováveis ou não) exploradas da natureza. Assim, a lenha, e o carvão foram (e ainda são) largamente utilizados na cocção e na calefação doméstica. Óleos vegetais como o de amendoim, por exemplo, foram utilizados por Rudolf Diesel para o desenvolvimento dos motores Diesel. Até mesmo óleo de baleia foi utilizado no passado para a iluminação pública através de lampiões.

Mais recentemente, e até hoje, observamos o papel importante que têm os combustíveis na mobilidade e na indústria, especialmente os de origem fóssil cujo consumo aumentou exponencialmente com o crescimento demográfico o que despertou os cientistas para os impactos antropogênicos causados pelo excesso de emissão de gases de efeito estufa, com consequências graves sobre o clima. Esses impactos mobilizam todo o planeta em buscas de alternativas a essa crescente demanda de energia.

O Hidrogênio Verde – H2V é tido, nesse cenário, como o “salvador da pátria”, o combustível do futuro. Mas diferentemente dos combustíveis do passado, o H2V, tal como a energia elétrica, é difícil de se armazenar. O armazenamento caro e/ou ineficiente é objeto de inúmeras pesquisas e desenvolvimento tecnológico com o objetivo de facilitar o seu armazenamento e transporte. Dentre as possibilidades de armazenamento, destacam-se o armazenamento em alta pressão (700 a 800 atm) e a liquefação criogênica (a -253°C), ambas tecnologias caras e pouco eficientes. Por razões análogas, mas muito menos exigentes, o Gás Natural Veicular não foi tão largamente utilizado no transporte como poderia.

O combustível ideal deve ser ambientalmente amigável e preferencialmente líquido, deve ainda concentrar uma quantidade grande de energia em um volume pequeno, com boa eficiência e segurança para facilitar o transporte. O H2V (mesmo sendo proveniente de fonte renovável) só preenche o primeiro requisito. Não é, portanto, um bom candidato, exceto para aplicação em nichos muito específicos.

Devido à dificuldade de armazenamento, a distribuição de H2V por duto vem sendo aventada. No entanto, do ponto de vista da Segunda Lei da Termodinâmica, a eficiência no uso da energia está relacionada à qualidade da utilização que se pretende dar a ela. Por essa perspectiva, não faz sentido o uso de mistura de H2V ao Gás Natural. Qualquer que seja a proporção, o simples fato de se realizar a mistura implica em degradar a qualidade da energia restringindo o desempenho global da aplicação (em relação ao H2V).

Não há dúvida de que precisamos substituir e usar os recursos energéticos disponíveis (em particular os renováveis) de forma a melhor atender às necessidades da sociedade moderna, tudo isso observando as restrições impostas pelas atuais e urgentes exigências ambientais. Mas para tanto, precisamos de uma quebra de paradigma de forma a atender às nossas necessidades energéticas sem estarmos presos necessariamente à lógica do passado. Assim, em certas situações, não precisamos de um novo combustível, mas de um novo processo que permita o uso de energia renovável em lugar de combustível fóssil. Em outras situações, de forma transitória, precisamos apenas melhor utilizar o combustível fóssil com um menor impacto ambiental. E, só então, utilizar um novo combustível, possivelmente o H2V.

Professor Mario Olavo Magno de Carvalho | Consultor da SER
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