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A geração de energia elétrica de forma híbrida entre duas fontes diferentes de energia, permite que essas sejam combinadas de forma a se valerem de sua complementaridade e sinergia para proporcionar um melhor “casamento” entre as curvas de oferta e de demanda de energia pelo SIN.
Diversas combinações, como por exemplo a hibridização eólico-solar, valem-se de suas complementaridades, em certas regiões geográficas, de forma a tornar a oferta de energia mais uniforme (flat). Infelizmente, isoladamente ou mesmo com hibridizações, essas fontes ainda mantêm a curva de geração de energia pouco flexível e afastada da condição desejável da oferta de energia, seja pela intermitência e variabilidade dessas fontes, seja pelas características também variáveis da curva de demanda de energia do SIN. Tal descasamento, combinado com limitações regionais de linhas de transmissão, levam à necessidade de corte da geração renovável (curtailment) feito pelo ONS, um problema grave que aflige o setor.
Sem dúvida, a possibilidade de armazenamento de energia minimizaria bastante esse problema agregando flexibilidade ao despacho da geração solar ou eólica que são totalmente inflexíveis. Isto significa que não é possível despachar para a rede uma potência menor que aquela disponibilizada por essas fontes, a menos que parte dessa potência seja dissipada (perdida). Para evitar essa perda faz-se necessário um sistema de armazenamento de energia como um BESS, por exemplo. Embora isso seja possível, aos custos atuais das baterias essa solução ainda é muito cara, conquanto se encontre próxima ao limiar de viabilidade econômica.
Outra estratégia muito conveniente seria hibridizar fontes de energia solar ou eólica, ou mesmo ambas com uma outra fonte também renovável, mas flexível. No Brasil a fonte hidrelétrica, responsável por cerca de 70% da geração elétrica, é a candidata natural e poderia usar a capacidade de acumulação de seus reservatórios[1] de forma a atender à necessidade de armazenamento de uma Usina Fotovoltaica – UFV, por exemplo. O armazenamento feito por essa via apresenta uma eficiência superior a qualquer alternativa de armazenamento, sem grande impacto econômico ou ambiental. Apesar de o maior potencial eólico e solar, muitas vezes não se encontrarem próximos à Usinas Hidrelétricas – UHEs, uma avaliação econômica criteriosa pode indicar a conveniência dessa associação, mesmo incluindo o custo adicional de uma linha de transmissão.
Uma Usina Fotovoltaica Flutuante – UFF, com sua vantagem logística, também poderia atender à hibridização entre usinas hidrelétricas e usinas solares, no entanto, com as tecnologias atualmente disponíveis, o seu CAPEX ainda é sensivelmente mais elevado que o das UFVs convencionais.
Soluções análogas poderiam também ser obtidas por arranjos híbridos entre UFVs ou EOLs com Usinas Termoelétricas – UTEs movidas a biomassa (também renovável), contudo tal alternativa não será abordada nesse artigo.
Professor Mario Olavo Magno de Carvalho | Consultor da SER
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[1] Existe ainda a possibilidade de supermotorização dessas UHEs de forma a lhes aumentar a flexibilidade, caso necessário.